Um professor brasileiro decidiu investigar os efeitos dos games nas aulas de matemática de crianças de uma escola estadual de tempo integral no município de Cotia, São Paulo. Os resultados foram promissores.
O professor é Adalberto Pereira do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, e ele relata que os jogos conferiram novo sentido ao ensino e à aprendizagem da matemática. “Os alunos estudam matemática e sentem que não vão usá-la na vida prática; eles se sentem desmotivados. Ao contrário, a compreensão da matemática passa a ter um significado quando os alunos conseguem experienciar o raciocínio lógico, por meio do seu exercício efetivado com os jogos.”
Além disso, os estudantes relacionaram o conteúdo matemático a outros aspectos sociais, refletindo, por exemplo, sobre criminalidade e sobre preservação ambiental.
A intenção original de Pereira era utilizar jogos no computador. A infraestrutura tecnológica presente era precária; poucos computadores; ausência de rede wi-fi e insuficiência de salas disponíveis a todos os alunos. O Grupo Alpha desenvolve projeto de cultura digital em escolas públicas e abrigou a pesquisa com jogos nos celulares dos alunos (prática conhecida como bring your own device, do inglês traga seu próprio equipamento).
Foi realizado então um estudo para verificar quais competências e habilidades matemáticas poderiam ser usadas para o ensino. “Sim City, por exemplo, é um jogo bem complexo de administração de cidades e que envolve conhecimentos de áreas interdisciplinares como a da matemática, mas também de economia, saúde, política, geografia, entre outros”, explica ele.
Por serem jogos que pedem cooperação entre jogadores, foi estimulado o uso de redes sociais, como na busca de tutoriais no YouTube, discussões em fóruns e um grupo no WhatsApp, para que fossem discutidos recursos, estratégias e que os alunos pudessem interagir.
Como o jogo era cooperativo, eles se ajudavam, tiravam dúvidas e estavam sempre animados. Isso também contribuiu com a diminuição dos índices de bullying na escola”, acrescenta o professor.
Durante um dos grupos focais, o pesquisador colocou no quadro da sala de aula três questões envolvendo a resolução de equações do primeiro grau (Álgebra I) contextualizadas com elementos e linguagem presentes no jogo digital. Os alunos resolveram de cabeça a primeira questão, porém foram incentivados a tentar formalizar matematicamente suas respostas usando o elemento incógnita “X”, nomenclatura desconhecida por todos.
“A matemática, assim como outros conteúdos curriculares, utiliza vocabulário técnico, pouco familiar aos alunos. Os jogos ofereceram oportunidade de dar sentido à linguagem matemática das resoluções de problemas, transformando a compreensão do conceito matemático, aos níveis mais abstratos comunicados por linguagem alfanumérica”, descreve Pereira.
Os alunos conseguiram estabelecer relações do conteúdo matemático presente nos games, com a diversidade de outras áreas da vida social. Por exemplo, em relação às demandas do jogo de administrar uma cidade, inferiram a necessidade do prefeito estar preocupado com a destinação do lixo de uma cidade; e a redução da necessidade de construir presídios caso se investisse mais na construção de escolas e, assim por diante.
É incrível ver professores tão criativos e que estão revolucionando os métodos de ensino, seria ótimo se isso virasse “moda” dentre as instituições de ensino no Brasil, concordam?
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