À medida que a lista de obstáculos na busca pela hipotética matéria escura e energia escura continua a crescer, torna-se cada vez mais evidente que algo pode estar equivocado em nossos modelos do cosmos.
A mais recente evidência que reforça essa perspectiva é intrigante. À medida que o Universo se desenvolve, os cientistas esperam que as grandes estruturas cósmicas sigam um padrão específico: regiões densas, como aglomerados de galáxias, deveriam se tornar ainda mais densas, enquanto os espaços vazios entre elas deveriam se expandir.
Isso ocorre porque, de acordo com nossa compreensão atual, a evolução do Universo é influenciada por duas forças opostas: a gravidade age para agrupar a matéria, enquanto a misteriosa energia escura parece estar impulsionando uma expansão cósmica. Segundo o modelo de cosmologia mais amplamente aceito, conhecido como Lambda-CDM, isso implica que, com o tempo, a rede cósmica de galáxias deve se tornar mais densa, enquanto os vazios cósmicos crescem e se esvaziam de matéria.
No entanto, quando Nhat-Minh Nguyen e sua equipe da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, examinaram uma ampla gama de dados de várias fontes observacionais relacionadas a esses dois mecanismos, eles fizeram uma descoberta intrigante: a taxa de crescimento dessas grandes estruturas é, na verdade, mais lenta do que o previsto pelas teorias, incluindo a famosa Teoria da Relatividade Geral de Einstein.
Conforme Nguyen explica: “A discrepância nas taxas de crescimento que potencialmente identificamos se torna mais evidente à medida que nos aproximamos do presente. Essas diversas investigações, provenientes de telescópios e observatórios espaciais, individualmente e em conjunto, apontam para uma redução no ritmo de crescimento. Agora, precisamos considerar se estamos negligenciando erros sistemáticos em cada uma dessas investigações ou se há um novo componente da física emergindo tardiamente em nosso modelo convencional.”
Tensões nas Teorias
Uma desaceleração na evolução das estruturas em larga escala do Universo, mais lenta do que o previsto pelas teorias, abre portas para várias possibilidades intrigantes. Pode sugerir a influência de partículas ou forças novas, até então desconhecidas. No entanto, também pode apontar para uma simplificação da teoria da matéria escura, em consonância com outras pesquisas que já apontaram nessa direção.
Mais especificamente, esses novos resultados têm um impacto direto na chamada “tensão S8” na cosmologia. S8 é um parâmetro que descreve o crescimento das estruturas no Universo, e a tensão ocorre quando os cientistas utilizam dois métodos distintos para calcular o valor de S8, e esses resultados não se alinham. O primeiro método, baseado na análise dos fótons da radiação cósmica de fundo (que nos remete a um passado distante), aponta para um valor de S8 mais alto em comparação com o valor derivado das observações de lentes gravitacionais de galáxias e medições de aglomerados de galáxias (que nos leva a períodos mais recentes).
O que torna esses novos resultados ainda mais intrigantes é que eles demonstram uma desaceleração notável no crescimento das estruturas cósmicas à medida que nos aproximamos do presente, alinhando de forma surpreendente os dois valores de S8. Como Dragan Huterer, um membro da equipe, observou: “Ficamos impressionados com a alta significância estatística dessa desaceleração anômala no crescimento. Sinto sinceramente que o Universo está tentando nos comunicar algo. Agora, cabe a nós, cosmólogos, decifrar essas descobertas.”
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