O Frâncio. Sua história de descoberta é marcada por uma verdadeira corrida científica, originada de uma teoria (incerta) sobre um possível elemento que ocuparia a posição 87 na tabela de Mendeleev.
Sabendo que os elementos seguem uma ordem natural, era previsível que as lacunas na tabela periódica, ainda não preenchidas na classificação proposta por Dmitri Mendeleev em 1869, fossem eventualmente ocupadas.
No entanto, completar o “álbum” de elementos do universo tem se mostrado uma tarefa muito mais complexa do que se imaginava. Entre os desafios estão a escassez de material e o curto tempo de vida de alguns desses elementos. Venha descobrir a história do Frâncio e se ele tem alguma aplicação prática no nosso dia a dia.
O Frâncio: uma busca que se arrastou por décadas
A sugestão de um elemento com número atômico 87 foi feita por Mendeleev na década de 1870, quando ele previu que lacunas na tabela periódica deveriam ser preenchidas por novos elementos. Assim, começou a busca por esse elemento ainda teórico, que despertou grande interesse no mundo científico da época.
No entanto, a descoberta do Frâncio não aconteceu com a rapidez que se imaginava. Embora tenha surgido a primeira pista relevante em 1914, a eclosão da Primeira Guerra Mundial interrompeu os experimentos e atrasou a pesquisa.
Foi somente em 1925 que as investigações foram retomadas, agora pelo químico russo D. K. Dobroserdov. Ele, convencido de que as amostras de potássio apresentavam sinais de radiação, chegou a sugerir o nome “russium” para o novo elemento, em homenagem à sua terra natal. Contudo, a ideia acabou sendo um erro, já que se tratava de uma pista equivocada.
A longa busca pelo Frâncio
O caminho para a descoberta do Frâncio foi marcado por tentativas frustradas de outros cientistas, como Gerald Druce e Frederick Loring (1926), que propuseram o nome “alkalinium”, Fred Allison (1930), que sugeriu “virginium”, e Horia Hulubei e Yvette Cauchois (1936), que chegaram a chamar o elemento de “moldavium”.
Esses cientistas enfrentaram fortes críticas, pois os métodos usados para observar, detectar e extrair as fontes do elemento eram considerados inadequados. As notícias, ainda que lentas, eram recebidas com grande ceticismo e debates acalorados.
Porém, em 1939, uma descoberta decisiva foi feita por Marguerite Perey. Ao estudar uma amostra de Actínio, o elemento de número 89 da tabela periódica, ela notou emissões de radiação incomuns. Intrigada por essa “fonte invisível”, Perey decidiu investigar mais a fundo.
Na época, Perey trabalhava no Laboratório de Marie Curie e foi a primeira a isolar o Frâncio a partir de uma amostra natural de Actínio. Assim, o elemento foi finalmente descoberto e recebeu o nome de “Frâncio” em homenagem à terra natal de Perey.
Raro e efêmero
Apesar de sua descoberta, até hoje não se sabe exatamente como o Frâncio se apresenta, uma vez que nunca foi possível obter uma amostra grande o suficiente para observá-lo diretamente. O Frâncio ocorre naturalmente como resultado do decaimento de elementos da família do Urânio, sendo um elemento altamente radioativo. Sua extrema raridade na crosta terrestre significa que nunca se encontram mais do que 30 gramas do elemento em qualquer dado momento, mesmo se todos os átomos dispersos ao redor do planeta fossem reunidos.
O Frâncio também é notável por sua meia-vida extremamente curta, de aproximadamente 22 minutos para seus isótopos mais estáveis. Embora existam outros elementos com tempos de vida ainda mais breves, geralmente esses têm origem sintética. O Frâncio, por sua vez, é considerado o último elemento descoberto que pode ser isolado naturalmente, o que o torna ainda mais raro e intrigante para os cientistas.
Devido à sua extrema raridade, abundância limitada e alta reatividade, o Frâncio não possui aplicações práticas no dia a dia, permanecendo restrito aos laboratórios de pesquisa. Sua difícil obtenção se deve ao fato de ser um elemento altamente instável e radioativo.
No entanto, o Frâncio também pode ser “fabricado” de forma sintética por meio do bombardeamento de elementos como Rádio e Tório. Esse processo envolve o disparo de partículas, como nêutrons e prótons, para alterar os núcleos desses elementos e atingir o número atômico desejado. O Rádio, por exemplo, é bombardeado com nêutrons, enquanto o Tório é bombardeado com prótons.
Embora ainda não tenha uma aplicação prática em nossa rotina, o estudo do Frâncio é fundamental para entender melhor o comportamento dos átomos e pode fornecer pistas sobre novas formas elementares no universo.
Enquanto a produção de Frâncio em quantidade suficiente para mais investigações não acontece, a pesquisa quântica sobre núcleos radioativos continua, ajudando a desvendar mistérios sobre elementos tão instáveis quanto algodão-doce na chuva.
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