Há mais ou menos duas semanas o texto de Ruth Manus, “A triste geração que virou escrava da própria carreira“ , publicado pelo Estadão, me chamou a atenção para um assunto que vivo discutindo com meus amigos universitários, sobre o detrimento da qualidade de vida em relação a carreira.
Confesso que até pouco tempo atrás eu queria ser bem rica. Meus pais são cinquentões da classe média brasileira, então nunca passei aperto, mas também nunca tive muitos mimos. E talvez por isso, acreditei durante um tempo que eles junto com a sua geração não haviam conquistado muita coisa na vida. E por isso eu queria fazer engenharia e ficar bem rica. Milionária. Trabalhar, trabalhar infinito e ter sucesso profissional e muito dinheiro ao meu redor.
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Daí vim pra Europa, fazer um intercâmbio. No intuito disso melhorar minha carreira para eu consolidar meu objetivo. Conheci aqui muita coisa diferente e bacana.( Repare que não digo melhor, nem pior, e sim diferente, não curto comparações.) Conheci principalmente a tal qualidade de vida, que normalmente no Brasil, em tempos de caos na economia, e greves nos serviços públicos, não está tão em alta.
E comecei a rever meus conceitos. Comecei a me questionar, os motivos de fazer o que eu faço da minha vida. E creio que muitos jovens universitários como eu, tenham feito os mesmos questionamentos. Acredito também que a busca desenfreada por dinheiro seja objetivo de grande parte. Mas será mesmo que o dinheiro que tanto almejei importa assim?
Será que carro de luxo, ou infinitas viagens estão dizendo que realmente serei feliz? Será que fiz a escolha certa e a minha meta de vida REALMENTE me motiva? Eu penso nos meus grandes ídolos engenheiros, tais como Ozires Silva e Bel Pesce, e eles ,claro, trabalham muito mesmo, mas dinheiro e carreira nunca foram a grande meta deles, e sim mudar e melhorar as coisas ao seu redor. Claro que dinheiro veio junto, mas não era o objetivo principal.
E também voltei a reparar nos meus pais, e como eles são pessoas felizes, tendo uma vida sem grandes luxos, mas também sem grandes estresses e cheia de energia. Eles são satisfeitos, e na verdade conquistaram uma das coisas mais difíceis da vida, a paz de espírito, que traz muito mais felicidade do que dinheiro. E realmente comecei a perceber, que eu tinha um objetivo de vida muito pequeno com a engenharia. Minúsculo. E provavelmente era esse o motivo pelo qual eu andava meio desmotivada com o curso e até mesmo com meu futuro.
Hoje, com um pouco mais de maturidade, consigo perceber que pretendo com a engenharia, muito mais que estabilidade financeira, poder tocar e proporcionar para as pessoas e para mim, qualidade de vida. Talvez possa eu ser sonhadora demais, e daqui dez anos vocês me encontrem dona de uma multinacional, extremante estressada e sem vida.
Mas só sei que tem um mês que mudei meus objetivos e consigo me inspirar e motivar muito mais a estudar a engenharia. Talvez a sua vida não esteja desinteressante, ou o seu curso não seja ruim. Talvez você só não encontrou a motivação certa.
Como aprendi em Desenho Técnico, tudo é questão de perspectiva. Se mudar o ângulo que você olha, pode enxergar além. Eu pelo menos não quero ser, como diz o texto de Ruth Manus ,escrava da minha carreira e sim escrava da minha felicidade e qualidade de vida, podendo fazer sempre melhorias ao meu redor.
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Por Ana Carolina Azeredo