Pois é… No “Engenharia em Pauta” da semana passada estávamos conversando sobre as ideias do filósofo francês La Boétie (Étienne de La Boétie,1530 – 1563), que em sua obra famosa, o Discurso da Servidão Voluntária, nos dava algumas razões de nos deixarmos dominar por algo que não desejamos muitas vezes, sendo “servos voluntários” de costumes e de paradigmas que nos foram inculcados por nossa educação, cultura, sociedade e ambiente no qual crescemos, dentre outras causas… Mas o próprio La Boétie nos indica como quebrar os grilhões desta servidão: basta queremos e pronto! Fácil de falar, mas difícil de realizar, não?
Um exemplo: a utilização das redes sociais: quantos de nós não nos tornamos “escravos” fiéis de uma utilização, digamos exagerada, desses maravilhosos meios de comunicação para passar longas horas do dia (e mesmo da noite…) “navegando” por elas, prejudicando relações sociais, profissionais e familiares, criando desavenças, semeando desinformação, influenciando consagrados regimes políticos, prejudicando nossa saúde, e assim por diante… Não é verdade? Nem preciso ir longe: sabemos deste fato fartamente, e seguramente conhecemos muitos casos, até dentro de nossa família… Inclusive, a Psicologia das Massas até intitula esta espécie de servidão de “Vício Coletivo”. E como qualquer vício… Pior ainda quando se trata de crianças e adolescentes – com a quarentena, falta de vida escolar regular, e insegurança nas ruas, passam o dia “navegando” ou jogando videogames. Qual será o impacto desse comportamento em sua formação para um mundo cada vez mais complexo? Mas a solução de La Boétie é a mesma indicada até por alguns criadores das redes: “se não precisar usar, não use”, ou no caso de crianças e adolescentes, controle… Tente! Dá certo, por experiência própria!
Em minhas andanças e vivência profissional, e mesmo familiar, encontrei muitas pessoas que levaram a solução de La Boétie ao pé da letra. Ou prepararam-se convenientemente ou mesmo tiveram algo como um “insight” instantâneo e libertador, e então modificaram suas vidas radicalmente. Apenas um exemplo, que me foi relatado pessoalmente: há vários anos, uma empresária, de grande sucesso, trabalhando intensivamente em sua empresa, proferindo palestras, participando de congressos e assim por diante, ao entrar em um grande auditório para mais uma palestra, proferiu-a convenientemente, mas, ao sair dela, chegou à conclusão muito clara de que não queria aquela vida, e estava definitivamente cansada da “Corrida de Ratos” corporativa (termo que me foi citado por outro empresário…). No dia seguinte, começou a libertar-se de tudo, até da própria empresa, e mudou-se para outro país, para uma vida mais simples… Radical, não? Garanto que você, cara leitora, caro leitor, conhece histórias semelhantes… No entanto, há perigo nessas situações; então, é preciso cuidado… Um bom planejamento de saída, com “Planos B” bem consolidados, mas que mantenha a decisão da saída, é fundamental – existem várias questões a resolver antes dela, e mesmo a liberdade total pode mostrar-se perigosa…
No entanto, dentro do contexto que estamos tratando, há um tipo de pessoa que, de certo modo e por vários motivos, já declarou sua “independência”: é o empreendedor. Vamos justificar esta minha afirmação, citando David C. McClelland (1917- 1998), que foi quem deu início à contribuição das ciências de comportamento para o empreendedorismo. Ele nos afirma que o empreendedor tem uma “cultura generalizada de realização”, que se caracteriza como “o desejo de fazer algo por fazê-lo, mais do que com fins de poder, amor, reconhecimento ou se desejar, lucro”. Pois é… Deu para perceber que existem desejos de liberdade nesta pessoa?
Vamos voltar a este assunto na semana que vem, e discutir mais um pouco sobre esse interessante personagem que corre firmemente atrás de sua liberdade? Até lá, então…
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