No “Engenharia em Pauta” da semana passada, conversamos sobre algumas pessoas que se libertaram da “servidão voluntária” na qual a maioria de nós está imersa, para tal libertando-se de paradigmas e modos de vida impostos pela educação, redes sociais, costumes, e assim por diante. Para sair dessa “servidão”, há um remédio que o filósofo francês La Boétie, estudioso deste estranho comportamento social e político dos seres humanos, nos indicou: basta querermos nos libertar e pronto!
E como também já citei, há um tipo de pessoa que já tem dentro de si, ou adquiriu ao longo de sua caminhada pela vida, um comportamento livre: é o empreendedor. E quem é essa figura? Uma primeira definição que bem define a minha afirmativa anterior nos foi dada por David C. McClelland (1917- 1998): o empreendedor é aquele que tem uma “cultura generalizada de realização”, que se caracteriza como “o desejo de fazer algo por fazê-lo, mais do que com fins de poder, amor, reconhecimento ou se desejar, lucro”. Dá para perceber que este indivíduo é naturalmente livre, e segue sua vida como bem deseja, inclusive à parte da ambição natural em nós… Ele define claramente como quer viver a sua vida!
E o empreendedor, em sua ânsia de liberdade, é extremamente importante para o desenvolvimento da sociedade e da tecnologia, pois como afirmou Joseph Alois Schumpeter (1883/1950), “o empreendedor é alguém que faz novas combinações de elementos, introduzindo novos produtos e/ou processos – em “destruição criativa” – identificando novos mercados de consumo ou fontes de suprimento, e criando novos tipos de organização”. Legal, não? Eu gosto muito do conceito de “destruição criativa”, pois me dá indícios de uma saudável libertação dos paradigmas usuais, tendo como consequência novas e inovadoras empresas, novas tecnologias e mesmo novos avanços sociais… A esse respeito temos outra afirmativa de peso: a de Eduardo Bom Angelo [1], em memorável palestra que tive a ventura de assistir: “Empreender – uma percepção que se torna ideia, que se transforma em inovação, que se coloca em prática, que gera valor”. Percebe-se aqui que percepção pode significar a visão que o empreendedor tem fora dos paradigmas que o rodeiam e a coragem de, baseado no seu repertório mental, formular novas ideias e colocá-las em prática.
Quanta coisa a comentar ainda… Mas vou concluindo a partir de um conceito muito interessante que nos é dado pelo meu grande e genial amigo prof. Bezamat Souza Neto (‘Bizuca’), em sua tese de doutorado [2], na qual ele estuda profundamente o empreendedor brasileiro, em sua característica de “virador”, ou seja, o empreendedor por necessidade. Esse tipo de empreendedor, aliás, constitui a maioria em nosso país… Tal conceito nos diz que “o restabelecimento da autonomia produtiva é capaz de proteger a liberdade individual e pode constituir uma atenuante para o caráter ‘laboral’ da sociedade contemporânea”. Bem definido o tipo de liberdade obtida pelo empreendedor, não é? Ele vive seu sonho, o que realmente deseja na vida, mas trabalha, mantendo-se e à sua família, e age na sociedade cumprindo seus objetivos, aproveitando as oportunidades que percebe, mas dentro do natural balizamento ético.
Ainda conforme o Bizuca [2]: “esta é uma parte importante da condição libertadora do empreendedorismo: ele é um agente de mudanças, realizadas a partir de uma visão mais completa do mundo do trabalho, e pela prática da mais alta atividade humana, que é a de pensar”.
Referências:
[1] EDUARDO BOM ANGELO – Diretor Presidente da Brasilprev – Professor de Empreendedorismo do IBMEC (SP) in Endeavour – Empreendedorismo Corporativo – palestra – julho/2004
[2] SOUZA NETO, B. Contribuição e elementos para um metamodelo empreendedor brasileiro: o empreendedorismo de necessidade do “virador”. 2008. 314 p. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal do rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.
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