Já conversamos bastante, neste espaço, sobre a necessidade de resgatar nossa criatividade natural, de certo modo perdida, para melhor viver e prosperar nesse novo mundo tecnológico que nos está sendo apresentado… E isso em si já é um bom desafio, pois esse próprio mundo, com seus modos de vida fortemente acelerados, já é um obstáculo para tal… O que fazer, então?
Algo que proponho para começar é observar o comportamento das crianças, ainda não imersas no mundo complicado no qual vivemos, a menos que os seus pais, infelizmente, as transformem em pequenos executivos com agenda cheia com aulas e atividades de todas as espécies além da escolaridade usual. Elas criam normal e constantemente em suas brincadeiras, inovando a cada passo, inventando novas possibilidades, imaginando fortemente novas situações, aproveitando tudo que for possível para realizar o que querem, e divertindo-se muito… E aprendem com tudo isso! Quanto temos que aprender com elas em relação ao desenvolvimento da criatividade! Vejamos, sem a pretensão de esgotar o assunto: forte curiosidade, firme vontade de explorar coisas novas, imaginação solta, ausência do medo de errar, quando erram corrigem prontamente e aprendem, têm coragem para tentar coisas novas, têm grande aproveitamento do que observam em volta, compartilham conhecimentos à vontade, seu pensamento está totalmente voltado à realização da brincadeira (e não denominamos esse fato de “aproveitar o fluxo” em nosso trabalho?). E assim por diante…
Seguindo essa linha de “ação de crianças”, muitas ferramentas para criar mais facilmente são elaboradas, formal ou naturalmente… Uma das que mais gosto, e que utilizei bastante com meus alunos, é sair da realidade em relação a um determinado problema, e imaginar uma solução completamente diferente, “maluca” mesmo, para ele… Melhor ainda se estivermos trabalhando em equipes, pois cada um pode “bolar” uma solução doida e imaginária, e depois o grupo em consenso (ou através de um mediador da discussão…) escolhe uma delas. Depois da escolha, todos trabalham para trazer esta ideia à realidade, em um produto, serviço, ou dispositivo, que possa ser usado no mundo real…
Um exemplo: em um seminário de criatividade, propus que os participantes resolvessem o problema de lançamento de esgoto nos rios. A Ideia “maluca” que foi escolhida, dentre várias, que incluíam um monstro que engolia toda a sujeira, seu alimento, foi lançar o fluxo do esgoto para muito alto, até além da estratosfera, onde chegaria muito pulverizado; aí, suas partículas seriam esterilizadas pela radiação solar, e se espalhariam, ao cair, por uma área tão grande, que sequer seriam notadas… Solução realística final: filtros para eliminar as partículas maiores, e circulação do líquido resultante por canos com forte radiação ultravioleta, que o esterilizaria… É, uma ideia a burilar e melhorar, mas uma possível boa ideia…
Uma dificuldade desse método, que reparei no referido seminário, foi fazer as pessoas “entrarem no clima” e acreditarem que dará certo… Como estamos bitolados em nossos pensamentos racionais! Aí propus, para começar, o seguinte problema: “imaginem que todas as tardes, entre 13 horas e 17 horas, que a gravidade terrestre desapareça por um minuto, aleatoriamente. O que fazer para evitar grandes acidentes na circulação dos automóveis?” Grande discussão foi então travada, após alguns minutos de perplexidade pela proposta de um problema tão fora do comum! Mas aí as soluções começaram a aparecer, dentre grandes risadas, desde a pavimentação das estradas com materiais ferrosos, atraindo pneus magnéticos – repare que essa seria uma primeira tentativa de solução, naturalmente… Mas a escolhida foi adaptar os veículos com fortes jatos de ar apontados para cima, acionados na hora em que a gravidade acabasse, o que manteria o veículo na estrada… Legal, não? Aí todos entraram no clima das ideias malucas…
Vamos pensar mais um pouco no que as crianças podem nos dar de ferramentas de criatividade? Até semana que vem, então…
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