No “Engenharia em Pauta” da semana passada, afirmei que não é possível “ensinar” empreendedorismo do modo usual (aulas expositivas, provas, etc.), já que as manifestações do mesmo se pautam por comportamentos empreendedores – estes sim podem ser desenvolvidos. Isto mostra que então não é válido “transmitir” conhecimento neste campo do comportamento humano, mas sim gerar atividades e questionamentos que produzam vivência de situações que levem ao empreendedorismo.
Mas então qual é o papel da escola (ou mesmo da família…) que se propõe a desenvolver o empreendedorismo em seus “pupilos”, algo que está ficando cada vez mais importante e necessário nos tempos atuais?
Para trabalharmos um pouco melhor este assunto, vamos dar uma olhada em uma importante estrutura desenvolvida por uma comissão multidisciplinar composta de especialistas de várias universidades americanas, liderada, na década de 1950, por Benjamin S. Bloom, e que ficou muito conhecida como Taxonomia de Bloom, posteriormente revisada e adaptada para a era digital. Esta taxonomia poderá nos ajudar na busca do que fazer para que desenvolver, vamos assim dizer, uma habilidade empreendedora. Ela é estruturada em níveis de complexidade crescente, ou seja, para desenvolver uma nova habilidade pertencente ao próximo item, devemos ter dominado e adquirido a habilidade do nível anterior. Estes níveis são, em resumo, a partir das habilidades de pensamento de ordem inferior (1):
- Recordar – reconhecer, listar, descrever, identificar, recuperar, denominar, localizar, encontrar;
- Entender – interpretar, resumir, inferir, parafrasear, classificar, comparar, explicar, exemplificar;
- Aplicar – implementar, desempenhar, usar, executar;
- Analisar – comparar, organizar, desconstruir, atribuír, delinear, encontrar, estruturar, integrar;
- Avaliar – revisar, formular hipóteses, criticar, experimentar, julgar, provar, detectar, monitorar;
- Criar – desenhar, construir, planejar, produzir, idealizar, elaborar.
Uma simples “olhada” na descrição acima nos mostra que as escolas, de modo bem geral, preocupam-se bem mais com os níveis iniciais (recordar, entender – este último, às vezes…) do que com os posteriores. E isto é de certo modo natural, pois os últimos níveis demandam bem mais tempo para desenvolver-se, mesmo porque, como já foi citado, precisam ter os seus níveis anteriores desenvolvidos, e sempre há muito conteúdo a ser ministrado no ensino formal. Em casa, os pais muitas vezes preocupam-se muito mais com as notas obtidas, do que com a compreensão e aplicação do que seus “pupilos” estão desenvolvendo através do sistema escolar. Também é natural, afinal sempre foi assim…
O problema é que empreendedorismo é vida, é manifestação de sonhos e vocações, é idealizar, criar, produzir, etc. Portanto, se quisermos acoplá-lo à Taxonomia de Bloom, veremos que ele está presente mais nos níveis mais elevados e finais. E o empreendedor normalmente se desenvolve nos primeiros níveis por si só, já que sonha com sua realização em um determinado campo, e vai atrás dele…
No próximo “Engenharia em Pauta” vamos continuar este assunto? Até lá, então…
Referência:
- TAXONOMÍA DE BLOOM PARA LA ERA DIGITAL – Andrew Churches- http://edorigami.wikispaces.com – acessado em 01 de novembro de 2019.
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