No início da manhã de hoje, 20 de abril, o petróleo tipo WTI já havia sofrido uma queda histórica de mais 40%. Entretanto, o preço caiu muito mais. No total, caíram 305% e o óleo passou a ser cotado abaixo de zero pela primeira vez, com US$ 37,63 negativos em Nova York, nos Estados Unidos. O colapso se refere apenas aos contratos para entrega em maio, que vencem amanhã, terça-feira, 21 de abril.
Isso quer dizer que os produtores estão tendo que pagar para que os fornecedores fiquem com os barris de petróleo WTI. Para junho, o mesmo produto está cotado a cerca de US$ 20,43, uma queda de 18,40%. Outro óleo, o Brent, em Londres, também para junho, recuou 8,94%, ficando em US$ 25,57.
O problema está no excesso de estoques do produto por conta da demanda. No mundo todo, por exemplo, há sinais da falta de locais para armazenamento para se ter ideia. Cerca de 160 milhões de barris de petróleo estão alojados em navios-tanque, de acordo com a Reuters – um número recorde, bem acima dos 100 milhões de barris que estavam nessa mesma situação no auge da crise financeira no final da década de 2000.
Os estoques de petróleo em Cushing, cidade que é o principal centro de armazenamento dos Estados Unidos, aumentaram para 55 milhões de barris, isso equivale 48% a mais, desde o fim de fevereiro. Segundo a Energy Information Administration, agência dos Estados Unidos que analisa informações sobre energia, o local tinha capacidade de armazenamento operacional de 76 milhões em 30 de setembro de 2019.
“Não há limite para o lado negativo dos preços quando os estoques e os oleodutos estão cheios”, publicou Pierre Andurand, gerente de fundos de hedge (uma espécie de proteção contra as oscilações do preço) de commodities, no Twitter. “Preços negativos são possíveis”, acrescentou.
Para os analistas do setor, a liquidação em massa ocorre para evitar a entrega física do barril de petróleo, em um contexto em que não há espaço para armazenamento.
“A redução na exploração nos Estados Unidos está ganhando um ritmo, mas não é rápida o suficiente para evitar o gargalo no armazenamento”, disse Paul Horsnell, chefe de commodities da Standard Chartered.
Na última sexta-feira, dia 17 de abril, a China anunciou uma contração econômica, a primeira em anos.
“Há um pouco de exagero no que estamos presenciando hoje”, afirmou Ilan Solot, estrategista do banco estadunidense Brown Brothers Harriman (BBH). “Mas isso não afasta a questão de que há uma oferta brutal [da commodity]”, comenta Solon. “Realmente é algo inédito, mas muito específico desse vencimento”, finaliza Marcos de Callis, estrategista da Hieron, empresa de investimentos.
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