Por Marcus Fireman – Nos últimos seis anos, muitas empresas brasileiras sentiram no bolso as interrupções da cadeia de suprimentos por conta de uma série de acontecimentos como a greve de caminhoneiros, a Covid-19 e suas ondas e, mais atualmente, as manifestações pós- eleições bloqueando as estradas. Estes eventos recentes só comprovam o que um estudo da empresa de consultoria Mckinsey apresentou: nas últimas décadas, a cada três anos ocorreu uma interrupção de um mês ou mais no processo de reabastecimento de suprimentos.
O Global Risks Report de 2022 elaborado pelo World Economic Forum apontou o colapso em cadeias sistematicamente importantes como um dos principais riscos da próxima década. O relatório ainda sinaliza que existem outros riscos como, por exemplo, desastres naturais, confrontos geopolíticos e conflitos sociais que acabam provocando fortes instabilidades no abastecimento de suprimentos global.
A crescente preocupação a respeito do tema tem feito grandes empresas e governos repensarem estratégias para proteger sua cadeia de suprimentos. Se na década passada foi possível notar um crescimento vertiginoso da globalização nessa cadeia, com empresas tendo componentes sendo produzidos em mais de 40 países, algumas empresas atualmente estão reavaliando suas estratégias, como é o caso da Apple que pretende comprar chips de fábricas americanas a partir de 2024. Outro exemplo é a Samsung, que protocolou pedido para construção de novas unidades fabris no Texas.
No Japão, por exemplo, a Toyota já atua em um plano de ação para garantir em cinco anos uma cadeia de suprimentos mais resiliente, com tempo de recuperação de até duas semanas. Este plano se fundamenta em quatro estratégias principais: a digitalização de fornecedores em diferentes níveis na cadeia de suprimentos, permitindo assim conhecer qualquer instabilidade na produção dos fornecedores o mais cedo possível; padronizar peças automotivas para permitir que as montadoras possam compartilhar componentes fabricados em locais diferentes; revisitar o estoque dos fornecedores, ampliando o estoque de segurança em pontos mais vulneráveis da cadeia; e, por fim, tornar cada região independente em relação ao quesito aquisição de peças.
Ano passado, um artigo do MIT trouxe outros insights importantes para empresas seguirem com o objetivo de proteger sua cadeia de suprimentos. Nele, foram levantadas como estratégias a criação de fornecedores alternativos e, principalmente, o aumento do estoque de segurança. O texto faz uma crítica com relação à política de muitas empresas em focar apenas no preço dos componentes em detrimento da diversidade de fornecedores.
De certa forma o contexto atual tem resultado em uma forte reflexão, o antigo driver just-in-time e o movimento de globalização da produção, que fizeram parte do modelo de cadeia de suprimentos global nas últimas décadas estão dando espaço para um novo mindset com foco em aumentar a resiliência da cadeia de suprimentos e na velocidade de resposta aos eventos inesperados.
Este novo mindset vai resultar em um movimento acelerado de adoção de novas tecnologias capazes de dar maior visibilidade ao status da produção e ao estoque de segurança em fornecedores dos mais diversos níveis da cadeia. A análise de riscos em cadeias críticas presentes neste novo mindset também pode ser o gatilho para um movimento de reindustrialização em países que apresentam menor risco a cadeia de suprimentos, seja por melhor infraestrutura para escoar a produção, mais disponibilidade energética, com menos desastres naturais e menos confrontos geopolíticos.
Achou útil essa informação? Compartilhe com seus amigos!
Deixe-nos a sua opinião aqui nos comentários.