No dia 9 de junho deste ano, um ex-mergulhador da Marinha dos EUA concluiu uma missão desafiadora debaixo d’água: residir em uma estrutura de 10 m², a uma profundidade de quase 7 metros, por um período de 100 dias.
Ao alcançar esse objetivo, Joseph (Joe) Dituri quebrou o recorde de permanência em um habitat subaquático (estabelecido por ele mesmo durante a experiência), superando a marca de 73 dias estabelecida pelos mergulhadores Jessica Fain e Bruce Cantrell no mesmo local, reconhecida pelo Guinness World Records em 13 de maio.
Joseph Dituri, um especialista em engenharia biomédica, realizou pesquisas sobre os efeitos da pressão hiperbárica no corpo humano. A pressão hiperbárica refere-se a uma pressão do ar acima do nível do mar. Com sua missão chamada Neptune 100, Dituri tinha o objetivo de aproveitar o período de residência subaquática para analisar os impactos dessa vida em um ambiente de alta pressão em sua própria saúde.
De fato, há uma diferença entre o experimento Neptune 100 e viver em um submarino
Bradley Elliott, professor sênior de fisiologia da Universidade de Westminster, explica que os submarinos são projetados para serem selados quando submersos e mantidos à pressão do nível do mar. Isso significa que não há uma diferença significativa de pressão mesmo quando o submarino está a várias centenas de metros de profundidade.
No caso do habitat subaquático de Dituri, não há escotilhas sólidas ou câmaras de ar entre o oceano e o espaço de vida seco, como ocorre em um submarino. Isso significa que o ar dentro desse ambiente é comprimido pelo peso da água, resultando em um aumento significativo da pressão ao seu redor. A uma profundidade de 100 metros, a pressão do ar dentro desse habitat era aproximadamente duas vezes maior do que a pressão atmosférica terrestre com a qual ele estaria acostumado.
A pressão hiperbárica representa uma ameaça significativa para os seres humanos, como bem sabem todos os mergulhadores certificados. Ao longo de várias gerações, nossos corpos se adaptaram às condições encontradas no nível do mar, onde apenas os dois principais gases respiratórios, o oxigênio e o dióxido de carbono, atravessam livremente entre os pulmões e o sangue.
Outro desafio enfrentado pelo pesquisador era garantir uma quantidade suficiente de vitamina D. Normalmente, a produção dessa vitamina ocorre quando a pele é exposta à radiação ultravioleta (UV) do sol. No entanto, no ambiente subaquático, essa exposição solar direta é limitada.
A vitamina D desempenha papéis essenciais na manutenção da saúde óssea, função muscular e imunidade. Estudos realizados com pessoas que viveram em habitats subaquáticos, como os administrados pela NASA como simulações de voos espaciais, descobriram que a função imunológica desses indivíduos diminuiu após apenas 14 dias de estadia.
Para minimizar essa redução na função imunológica, Dituri teve que buscar outras fontes de vitamina D debaixo d’água, como alimentos, suplementos ou lâmpadas UV. Essas alternativas foram necessárias para suprir a falta de exposição solar direta e garantir a adequada ingestão de vitamina D durante sua permanência no habitat submerso.
De acordo com um comunicado da Universidade do Sul da Flórida, onde Joseph Dituri é professor associado, o pesquisador relatou ter se sentido “rejuvenescido” após viver debaixo d’água por um longo período. Durante sua estadia, ele se envolveu em atividades físicas, como caminhadas dentro do compartimento em que residia e natação.
Embora a natação sob pressão pudesse levar à perda de massa óssea e muscular, Dituri compartilhou que se sentiu rejuvenescido com a experiência. Curiosamente, ele observou uma diminuição de meio centímetro em sua estatura de 1,86 metros de altura antes de iniciar a missão. Essa diminuição pode ser atribuída à pressão exercida pela água durante sua permanência subaquática.
O cientista Joseph Dituri afirmou que o objetivo principal do projeto era testar a hipótese de que o aumento da pressão poderia ajudar os seres humanos a viver mais tempo e prevenir doenças relacionadas ao envelhecimento. Os resultados da experiência foram positivos nesse sentido. Em uma entrevista ao jornal britânico Daily Mail, Dituri revelou que os exames realizados após seu retorno à superfície mostraram que os telômeros, sequências de DNA que encurtam à medida que uma pessoa envelhece, estavam 20% mais longos após mais de três meses debaixo d’água, o que equivaleria a mais de uma década de rejuvenescimento.
Além disso, os exames mostraram um aumento de 10 vezes no número de células-tronco desde o início da missão, uma redução de 50% nos marcadores inflamatórios e uma diminuição do colesterol ruim. Dituri expressou que essa experiência o transformou de maneira significativa e espera ter inspirado uma nova geração de exploradores e pesquisadores a ultrapassar limites.
Ele também manifestou a esperança de que sua pesquisa subaquática beneficie o tratamento de várias doenças, incluindo lesões cerebrais traumáticas.
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