A seleção natural é comumente associada à mudança, onde os organismos que se afastam da norma podem adquirir vantagens que garantem a sobrevivência de suas linhagens em comparação com seus parentes menos adaptáveis.
No entanto, pesquisas recentes indicam que a seleção natural também possui a capacidade de preservar a estabilidade.
“Costumamos destacar a incrível diversidade da vida, o que é totalmente justificado. A seleção natural é responsável por grande parte dessa diversidade, talvez até a maior parte. No entanto, ela também pode promover semelhanças”, afirmou o professor Jeff Conner, da Universidade Estadual de Michigan (EUA).
Essa ampliação do entendimento científico sobre a seleção natural envolve um novo mecanismo evolutivo denominado “restrição genética” ou “constrangimento genético”, conforme apontado pela equipe.
A ideia subjacente à restrição genética é que, à medida que as espécies evoluem, podem perder flexibilidade genética em certas áreas. Isso resulta na estabilização e persistência de características específicas ao longo das gerações.
Portanto, é válido considerar a seleção natural não apenas como um impulsionador da evolução, estimulando características diversas e distintas, mas também como um freio que mantém e preserva semelhanças.
Conner destacou: “Nosso trabalho desafia um pouco a narrativa comum. Estamos sugerindo que a seleção natural também pode agir como um desacelerador, promovendo semelhanças e diferenças”.
A seleção natural trabalhando em prol da conservação
Os pesquisadores desenvolveram sua nova teoria ao estudar o rabanete selvagem como organismo modelo, uma planta daninha altamente problemática na agricultura, especialmente em campos de trigo na Austrália e no sudeste dos Estados Unidos.
Em dois estudos complementares, a equipe investigou uma característica distintiva do rabanete selvagem: o comprimento de seus estames, que são as partes responsáveis pela produção de pólen. Nesse contexto, dois dos seis estames do rabanete selvagem são curtos, enquanto os outros quatro são longos.
Essa mesma característica é amplamente compartilhada por cerca de 4.000 parentes do rabanete selvagem pertencentes à família da mostarda. Isso inclui a Arabidopsis thaliana, outra planta de importância como organismo modelo, a erva-alheira, que é uma espécie invasora nos Estados Unidos, além de muitos vegetais comuns, como couve, couve-flor e couve-de-bruxelas.
Para investigar a influência da seleção natural e das restrições genéticas sobre essa característica distintiva dos estames nessa família de plantas, os pesquisadores recorreram à chamada “seleção artificial”. Isso significa que eles criaram intencionalmente rabanetes selvagens cujos estames tinham comprimentos mais próximos entre si, a fim de verificar se era possível alterar essa característica. A equipe explicou: “Se a característica respondesse à seleção artificial, ficaria evidente que ela poderia evoluir. No entanto, se a característica não respondesse, isso indicaria uma restrição devido à falta de variação genética”.
Surpreendentemente, a característica não apenas respondeu à seleção artificial, mas também o fez de maneira bastante rápida. A diferença no comprimento dos estames foi reduzida em mais de 30% dos experimentos.
O professor Conner observou: “Essa família de plantas manteve essa característica de quatro estames longos e dois curtos ao longo de 50 milhões de anos, e conseguimos eliminar mais de um terço dessa diferença em apenas cinco gerações, o que equivale a aproximadamente cinco anos. Minha suposição é que, se continuássemos, poderíamos eventualmente alcançar seis estames com comprimentos iguais”.
Em suma, esse estudo demonstra como a seleção natural desempenha um papel crucial não apenas na promoção de mudanças evolutivas, mas também na preservação e estabilização de características ao longo do tempo. O pesquisador concluiu: “A seleção natural desempenha um papel muito importante. Estamos descobrindo que ela é capaz de realizar muitas coisas que as pessoas anteriormente acreditavam que não fosse possível”.
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