Enquanto alguns formandos estudam para concurso da Marinha, outros fazem intercâmbio ou cuidam dos pequenos negócios das familiais. O que eles tem em comum? Todos passaram no vestibular para cursar Engenharia de Petróleo na Universidade Federal Fluminense, UFF – em 2011, quando ainda se discutia a possibilidade de que o País iria ter um apagão de engenheiros. Passaram-se cinco anos, já formados, o cenário era outro e o mercado de trabalho tinha virado ao avesso.
“Nos primeiros semestres, os professores falavam que todo mundo sairia empregado. Em 2011, teve aquele apogeu do petróleo. Foi motivador, mas não durou até a formaturas”, diz um dos formandos, um dos dois entre 12 colegas do curso que hoje atuam na área como engenheiros. O segundo atua como estagiário em uma empresa de medição de poços e foi promovido recentemente ao cargo engenheiro.
Os outros dez formandos, procuraram um outro trabalha ou foram fazer mestrado. “Eu desisti da carreira. É uma coisa que não tem estabilidade. Quando começamos a cursar engenharia, a situação era bem diferente. Pra se ter ideia, dá Petrobrás só vinha notícia boa, mas tudo mudou”, diz um dos formandos que tenta uma vaga na Receita Federal.
Somada à crise, que paralisou o andamento de grandes obras de infraestrutura e deixou a Petrobrás no centro dos escândalos de corrupção, mais a queda do preço do barril do petróleo nos últimos anos atingiu em cheio uma das áreas da engenharia mais promissoras.
“Há cerca de cinco anos, as empresas vinham até a nossa faculdade, faziam palestras de recrutamento e recolhiam os currículos de quem iria se formar. Era bem diferente”, relembra um dos formado da turma em 2016 que hoje atua na área comercial de uma distribuidora de gás.
“Mas tudo isso não parou só na área de petróleo e gás. Os engenheiros civis foram os que sentiram de imediato o adiamento ou até mesmo o cancelamento de projetos, mas toda obra tem um mecânico e um eletricista”, diz assim o presidente da Federação Nacional de Engenheiros, Murilo Pinheiro. “Todas as profissões sofreram nos últimos anos, a perda de vagas na engenharia só nos lembra do quanto a economia está anormal.”
Não apagou. O apagão de engenheiros que se falava em 2010– em que a baixa oferta de profissionais limitaria o andamento de obras e o crescimento do País – não existiu. Os mais experientes diziam recusar trabalho e os iniciantes recebiam ofertas antes mesmo de estarem formados.
Já em 2013, uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) já apontava que não seria assim por muito tempo. Pela pesquisa, o número de engenheiros atuando em suas respectivas áreas de formação precisavam triplicar até 2020 para não comprometer o andamento de projetos, mas apenas num cenário em que a economia crescesse a um ritmo de pelo menos 4% ao ano. Só que 2013 terminou com crescimento de 2,07% e foi seguido por um ano de estagnação e duas quedas do Produto Interno Bruto, PIB.
Sabemos que o mercado de trabalho de engenharia tem relação direta com o crescimento do País. Por exemplo, no ano de 1980, quando o Brasil também passava por uma forte crise, um caso que é sempre lembrado é o de um profissional que, sem conseguir emprego, abriu uma lanchonete na Avenida Paulista, no coração de São Paulo, batizada de ”O Engenheiro que Virou Suco”.
Pois bem, desde 2014, o número de profissionais de engenharia demitidos é maior que o de contratados, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que pertence ao Ministério do Trabalho. O saldo de vagas fechou 2016 em queda de 20,7 mil.
Um professor da Universidade Federal Fluminense, UFF – avalia que com o desdobramento da Operação Lava Jato, muitas empresas investigadas pela Operação que atuam na área de engenharia foram responsáveis pela queda no mercado e que isso levará um tempo para se reerguer. “O problema são os talentos que deixarão de optar pela carreira de engenharia pela falta de perspectiva. Se o País vai mal, o engenheiro acaba mesmo virando suco.”
As informações são do jornal ”O Estado de S. Paulo” e ”Isto é”.
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