A equipe, liderada por Ellen Roman e composta por cientistas das universidades de Sorocaba (Uniso), Unicamp e UFABC, partiu da análise de amostras de solo contaminado com plástico. A partir delas, desenvolveram comunidades microbianas capazes de degradar materiais como polietileno (PE) e tereftalato de polietileno (PET).
Esse estudo permitiu a identificação de novas espécies bacterianas e enzimas associadas à decomposição de polímeros. Um dos destaques foi a linhagem Pseudomonas sp. BR4, que não apenas degrada o PET, mas também sintetiza polihidroxibutirato (PHB), um bioplástico de alta qualidade. Enriquecido com hidroxivalerato (HV), esse material se torna mais flexível e resistente que o PHB puro, sendo uma alternativa viável para embalagens sustentáveis e aplicações biomédicas.
“Para alcançar esses resultados, sequenciamos os genomas de 80 bactérias presentes nas comunidades microbianas, identificando tanto espécies já conhecidas quanto novas, todas relacionadas à degradação de plásticos. Além disso, analisamos o potencial genético de cada uma na codificação de enzimas envolvidas nesse processo”, explicou o professor Fábio Squina.
O estudo também mapeou transportadores e vias metabólicas que atuam na quebra e assimilação dos polímeros plásticos. “As comunidades microbianas mostraram um comportamento cooperativo, onde diferentes bactérias interagem para degradar os polímeros de forma eficiente”, destacou Squina.
Expansão da Tecnologia para Outros Plásticos
A abordagem utilizada pode ser aplicada a outros tipos de plásticos, ampliando ainda mais seu impacto ambiental. “Estamos explorando formas de otimizar enzimas e microrganismos para degradar plásticos ainda mais resistentes que o PET”, afirmou Squina.
Além da conversão em bioplásticos, essas bactérias podem ser aproveitadas para a produção de outros compostos químicos de interesse industrial. Se a tecnologia for bem-sucedida em condições ambientais reais, suas aplicações podem se estender para os setores agrícola, cosmético e alimentício.
A urgência de soluções eficazes para o problema do plástico é evidente. Segundo um levantamento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), os plásticos representam 85% dos resíduos que chegam aos oceanos, e a projeção é que esse volume quase triplique até 2040. Além disso, a poluição por microplásticos já impacta o solo, a água, o ar e até mesmo o organismo humano.
Embora amplamente praticada, a reciclagem tradicional de plásticos tem impacto limitado, pois geralmente resulta em materiais de menor qualidade, que eventualmente também são descartados. “A reciclagem, como é feita hoje, não resolve o problema porque gera plásticos de propriedades inferiores, que voltam para o ciclo de descarte”, explicou Squina.

[Imagem: Roman]
Nesse contexto, a conversão de plásticos em bioplásticos surge como uma alternativa promissora, oferecendo um caminho mais sustentável para a mitigação do impacto ambiental dos resíduos plásticos.
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