O Laboratório Nacional de Astrofísica(LNA) e a Agência Espacial Russa assinaram um acordo este ano para monitoramento do lixo espacial. A parceria prevê a instalação de um telescópio no Observatório do Pico dos Dias, em Brazópolis (MG). Os russos investiram R$10 milhões no projeto. Em contrapartida, o Brasil ofereceu estrutura para operação do equipamento, além de arcar com os custos de energia, internet, etc.
A parceria faz parte da segunda etapa de uma pesquisa desenvolvida pela Rússia, que já tem em seu território um telescópio voltado para o mapeamento de lixo espacial. Havia, porém, a necessidade de encontrar um parceiro do hemisfério sul. As negociações com o Brasil avançaram e foi facilitada pela boa relação entre os dois governos, que já mantinham um acordo para utilização pacífica do espaço.
O Observatório do Pico dos Dias, situado a cerca de 1,8 mil metros de altitude, também atraiu os russos. “O objetivo é que os telescópios no Brasil e na Rússia fiquem em uma posição em que possam fazer imagens complementares. A nossa localização traz essa possibilidade, além de termos um céu que favorece a observação”, explica Bruno Castilho, diretor do Laboratório Nacional de Astrofísica.
O telescópio russo que vai monitorar lixo espacial na órbita terrestre já começou a ser instalado no Pico do Dias. Esse é o primeiro equipamento deste tipo instalado no Brasil e também o primeiro do projeto russo fora do país de origem.
De acordo com Castilho, dia 15 de janeiro de 2017 chega a equipe que vai montar a parte da ótica e do software. Em fevereiro, acontece a inauguração oficial do telescópio.
Lançamento de satélites
Considerar os percursos do lixo espacial é de vital importância para lançar satélites. “Segundo estimativas da Nasa, cerca de 50 mil restos de satélites e foguetes orbitam ao redor da Terra. É um dado que considera apenas peças grandes, porque há também uma infinidade de lixos menores, que chegam a ser do tamanho de uma bola de tênis. O problema é que tudo isso viaja a muitos quilômetros por hora e o impacto com um satélite pode ser destruidor, levando a um prejuízo financeiro e temporal enorme para a ciência”, diz Castilho.
Atualmente, quando o Brasil vai colocar em órbita um novo equipamento, é necessário seguir recomendações da Nasa. No entanto, a agência dos EUA não fornece informações detalhadas. Com os dados que serão gerados através do acordo com a Rússia, o país passará a deter um conhecimento que permitirá escolher melhor órbitas que não ofereçam riscos. Além disso, será possível prever a possibilidade de algum lixo espacial cair em solo terrestre.
Pesquisa brasileira
Vinculado ao Ministério da Inovação, Ciência e Tecnologia, o Laboratório Nacional de Astrofísica é uma unidade de pesquisa que opera desde 1985. Sediado em Itajubá (MG), seu objetivo é oferecer à comunidade científica serviços sofisticados para o desenvolvimento de estudos aprofundados. Entre suas estruturas está o Observatório do Pico dos Dias, que já tinha o maior telescópio funcionando até então em solo brasileiro. Equipamento que será superado pela tecnologia russa.
Com 75 cm de abertura, o novo telescópio terá um campo de visão mais abrangente e será capaz de mapear uma área maior que qualquer outro no Brasil. A previsão é que comece a operar em novembro, o que trará também um importante ganho para a ciência nacional. As imagens geradas pelo equipamento, além de ajudar a mapear o lixo espacial, poderão favorecer estudos sobre asteroides, cometas, estrelas, etc.
Todos os dados e fotos ficarão disponíveis para os pesquisadores brasileiros. Os interessados precisarão apenas fazer uma requisição ao Laboratório Nacional de Astrofísica. “Poderemos observar detalhes que antes não estavam ao nosso alcance”, disse Castilho.
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