A palha da cana-de-açúcar tem sido indicada para a produção de energia elétrica e de etanol de segunda geração (2G) dessa forma se aumenta a geração de bioenergia sem ampliar a área plantada.
No entanto, um estudo publicado na revista BioEnergy Research aponta que retirar a palha da lavoura, normalmente deixada no solo após a colheita, pode dobrar a necessidade de fertilizantes nos canaviais brasileiros.
O alerta foi feito por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) e do Laboratório Nacional de Biorrenováveis do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (LNBR-CNPEM), com base em um estudo apoiado pela FAPESPe pelo programa Fundo Tecnológico (Funtec), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Nas lavouras de cana, as colhedoras retiram uma parte da planta conhecida como colmo, de maior valor comercial e energético, e devolvem para o solo as folhas, que são ricas em nutrientes e, depois de secas, formam a palha.
Já era sabido que a manutenção dessa biomassa na superfície do solo contribuía para a fertilidade do solo. Porém, pela primeira vez, calculou-se a quantidade de nutriente retida nas folhas da cana e a quantidade de fertilizantes que seria necessária para suprir a lavoura se a palha fosse retirada do solo na região centro-sul do Brasil.
“No estudo, transformamos o valor dos nutrientes presentes na palha da cana em fertilizantes equivalentes [nitrogênio, fósforo e potássio]. Afinal, ao fazer a retirada dessa biomassa, o agricultor deverá comprar fertilizante mineral, o NPK, e aplicá-lo na lavoura para repor nutrientes. Medimos esse valor, que era invisível até então”, disse Maurício Cherubin , pesquisador da Esalq e autor do artigo.
A palha no solo contribui para um processo chamado de ciclagem de nutrientes. A planta absorve e acumula os nutrientes do solo em seu tecido e, quando morre e se decompõe, esses nutrientes retornam ao solo, iniciando um novo ciclo de transferência. Porém, quando a palha é retirada do solo, o processo é interrompido.
Definição de critérios
As análises sugerem que a retirada total da palha do solo resulta, em média, na necessidade de 195 quilograma de fertilizante por hectare (kg/ha) por ano, a um custo adicional de US$ 90 por hectare. Essa quantidade de fertilizante corresponde ao dobro do volume usado atualmente na região centro-sul, principal produtora de cana no país.
O estudo não comparou os gastos na compra de fertilizantes com os ganhos na geração de energia com a palha da cana. O preço do quilowatt-hora (kw/h) por hectare varia conforme a demanda, localização da usina, período do ano e fatores meteorológicos (seca).
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