Aos 79 anos, Ivo Klug é o candidato mais idoso aprovado no Vestibular 2019 da Universidade Federal de Santa Catarina. A partir do segundo semestre deste ano, quando estará com 80 anos, iniciará o curso de Engenharia de Controle e Automação no Campus Blumenau, esta será sua segunda graduação.
A vitalidade de Ivo é visível nas expressões faciais e na tonalidade da voz ao contar suas histórias e também seus feitos. Passou por diversas empresas, algumas cidades, viajou para o exterior, fez uma série de cursos e uma pós-graduação e agora, 50 anos após a conclusão do curso em Engenharia Mecânica na Universidade Federal do Paraná, retorna aos bancos escolares para aprender, ‘com profundidade’, sobre projetar, analisar e usar sistemas de controle e automação.
A escolha pela Federal de Santa Catarina e pelo curso não foi um mero acaso. Todos os passos foram analisados, estudados e preparados para que a aprovação fosse possível. Ivo frequentou aulas no Campus Blumenau em 2017, quando cursou a disciplina de Física I como aluno isolado. Foi aprovado com média 7,5, se apaixonou por Controle e Automação, pela estrutura e também pelos professores. Esses motivos foram suficientes para que decidisse prestar o Vestibular 2019. “A prova foi difícil, cansativa, são três dias. Fui bem em matemática, mas não consegui fazer todas as discursivas. É muito diferente da minha época”. Diz o sr Ivo.
Quando soube que seria calouro, após confirmação de aprovado na Secretaria do Campus, Ivo disse: “‘então quer dizer que eu estou dentro?’. Dei um berro ali fora, sabe aquele de emoção?”. “Eu fiquei muito emocionado, é uma grande alegria. Eu me senti não no céu ainda (rsrs), mas bem pertinho”, relata ele com o Boletim de Desempenho Individual nas mãos.
A vocação para a engenharia
É notório perceber que a busca por conhecimento é constante e incansável durante a vida de Klug, mas isso parece ter sido feito com muita leveza e diversão. A caminhada escolar começou no final da década de 40, com o primário. O ginásio foi entre 1952 e 1954, seguido pela passagem de um ano no 23° Regimento Infantaria de Blumenau (atual Batalhão de Infantaria) e a conclusão do ensino médio em 1959 no Colégio Pedro II. A decisão de ir ou não para a faculdade não aconteceu de imediato, foram necessários alguns anos e a passagem por uma companhia de cerveja, em Porto Alegre, para que a sua vocação de fato designasse. “Fui para lá para trabalhar com química, tive a proposta de ir para a Alemanha me especializar na produção de cerveja, mas recusei, porque descobri a minha vocação. Foi na empresa que o meu caminho de fato se abriu, eu nunca tinha pensando em engenharia antes, mas quando vi as máquinas tive uma vontade de pegar aquilo, entender, saber como ela funciona, seus princípios básicos”. Revela Ivo.
A primeira graduação foi em Engenharia Mecânica concluída em 16 de dezembro de 1968 pela Escola de Engenharia de Curitiba. A segunda começa no segundo semestre deste ano em Blumenau. Mais uma vez, uma universidade federal foi escolhida para ser o local de descobertas e entendimentos.
A escolha estratégica pelo curso
A precisão é fundamental para Klug, que trabalha atualmente como responsável técnico na construção de elevadores.
“Quando eu fiz engenharia era isso que se usava”, falou ele ao retirar da pasta uma régua de cálculo, usada no curso de engenharia na década de 1960. “Isso era usado para fazer cálculo – trigonometria, logaritmo, multiplicar, tudo era feito ali. É Alemã, bonitinha, é uma recordação. Eu mostro sabe por quê? Porque eu estou desatualizado. Isso aqui não existe mais, ninguém mais usa. E se eu quiser continuar trabalhando com elevadores, como eu trabalho hoje, eu preciso me atualizar”, frisa ele, citando a consagrada frase do governo de Juscelino Kubitschek: “vai ser 50 anos em 5. Em cinco anos eu vou ter que pegar tudo isso e, ao mesmo tempo, me especializar em quadros de comando dos elevadores, uma eletrônica de altíssimo nível”.
Ivo fará todas as disciplinas, não pensa em validar nenhuma delas, porque quer aproveitar todo o conhecimento disponível nas 4.400 horas do curso ofertado pela Federal de Santa Catarina. “Vou fazer tudo bem feito e sair daqui com o diploma na mão dizendo assim: ORGULHOOOO!”. Diz Ivo Klug diante da expectativa de conquista futura do diploma.
O Censo da Educação Superior, que analisa dados educacionais de 2017, apontou que 7.792 pessoas acima dos 65 anos estão matriculadas em cursos de graduação presencial e à distância no Brasil. Destes, 2.461 têm mais de 70 anos. No Sul, são 367 matriculados acima dos 70 anos, sendo que em Santa Catarina são 62 estudantes nesta faixa etária.
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