Um homem de 29 anos que ficou paraplégico por causa de um acidente envolvendo um snowmobile em 2013 está conseguindo voltar a andar. A novidade foi anunciada em um artigo científico na revista Nature Medicine, e relata que um eletrodo implantado na coluna é capaz de enviar a mensagem elétrica para que os membros inferiores se movam.
Isso significa que os neurônios abaixo do local do ferimento na medula continuam funcionando mesmo anos depois do início da tal paralisia.
No caso relatado acima, o homem passou por 22 semanas de fisioterapia antes do implante para descartar qualquer melhora que não fosse exclusiva por conta do eletrodo. Depois desses meses todos, o paciente não apresentou melhoras e foi liberado para passar pela cirurgia.
Uma equipe de neurocirurgiões da clínica Mayo implantou o eletrodo, que é aprovado pela agência que regula medicamentos e equipamentos médicos nos Estados Unidos, o Food and Drug Administration, – FDA. Este eletrodo foi desenvolvido para aliviar dores, mas ainda não havia sido testado em pessoas com paraplegia.
Com a ajuda de um controle sem fio, a equipe conseguiu criar pulsos de corrente elétrica direto em sua medula.
Passinhos de bebê
Durante 113 sessões de reabilitação distribuídas em 43 semanas, os pesquisadores testaram várias combinações de estímulos elétricos e outras variáveis. Pouco a pouco, ele conseguiu mover suas pernas.
No começo, ele precisava ver suas próprias pernas no espelho o tempo todo para conseguir controlá-las, já que apesar de o eletrodo enviar os sinais elétricos, o paciente ainda continua sem ter a sensação de tato abaixo da lesão medular.
Depois de muito trabalho duro do paciente e da equipe, o homem conseguiu dar 331 passos usando um andador com rodinha frontal. Isso equivale à distância de um campo de futebol. Quando o eletrodo é desligado, ele perde a habilidade de mover as pernas, o que confirma que o sucesso realmente vem do pequeno equipamento.
Por que funcionou?
Enquanto a equipe comemora os resultados conquistados, resta uma dúvida crucial: por que o eletrodo funciona? O neurocirurgião participante do experimento, Kendall Lee, explicou em um encontro com a imprensa que esta questão tem que ser estudada.
Um segundo paciente já recebeu o implante, mas ainda é muito cedo para avaliar os resultados. Caso ele seja tão bom quanto o primeiro, podemos estar no caminho certo para um futuro em que pessoas que sofreram dano na medula poderão voltar a andar.
Muitos outros casos de sucesso
Também em um estudo paralelo, outra equipe de pesquisadores conseguiu resultados semelhantes usando o mesmo estimulador para dores. Este trabalho foi publicado na revista New England Journal of Medicine, e envolveu profissionais da Universidade de Louisville em Kentucky,nos Estados Unidos.
Neste artigo, casos de cinco pacientes foram relatados. Todos eles conseguiram voltar a andar, sendo que dois não precisam de nenhum auxílio externo.
O artigo mostra que o estimulo elétrico na coluna, quando combinado com um programa de treinamento bastante especializado e intensivo, pode reeducar o corpo para movimentar as pernas.
Neste treinamento, a equipe envolvida na pesquisa movimenta as pernas do paciente de forma bastante específica para sinalizar para a medula que ela pode agir. “Os treinadores movimentam as pernas em padrões especiais que imitam a caminhada”, explica Susan Harkema, que lidera o centro de pesquisa sobre ferimentos na medula da universidade.
Depois, o paciente é colocado em uma esteira, e os exercícios continuam ali. Mais tarde, eles passam a caminhar no chão, com a ajuda de andadores. “A medula pode reaprender a andar de forma independente”, diz ela.
Acidente com mountain bike
O chef de cozinha Jeff Marquis, atualmente com 35 anos, sofreu um acidente de mountain bike aos 28 anos. Ele ficou paralisado do pescoço para baixo, com um pouco de movimento nos braços e pulsos. Antes do implante, ele precisava de ajuda para levantar da cama todas as manhãs, mas agora consegue realizar suas tarefas rotineiras sozinho.
Hoje ele até cozinha sozinho, com equipamentos especiais projetados para ele. “Mas cedo ou tarde eu vou ter que voltar para a universidade para começar uma nova carreira”, diz ele, cheio de planos.
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