Você sabe quantos zeros existem em US$ 2,5 decilhões? Ao todo, são 32. Em termos gráficos, essa quantia é tão grande que mal cabe em uma linha de texto.
2.500.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.
Ao converter esse valor para reais, o número se torna ainda mais impressionante:
R$ 14.421.491.892.250.000.000.000.000.000.000.000, considerando a cotação atual.
Esse é o valor que um tribunal russo está exigindo do Google devido ao bloqueio, em 2020, dos canais no YouTube de emissoras estatais e outras empresas de comunicação pró-Kremlin, segundo o The Independent.
O Google justifica a remoção das contas por “violações da legislação sobre sanções e regras comerciais”. Por outro lado, os russos alegam que sofreram perseguições e agora buscam uma compensação financeira.
O que sabemos sobre o processo
Os primeiros bloqueios aconteceram em 2020 e afetaram a TV Tsargrad e a RIA FAN. Em agosto daquele ano, a Tsargrad recorreu ao Tribunal de Arbitragem de Moscou, solicitando a liberação de sua conta no YouTube. A decisão foi emitida cerca de um ano depois, em setembro de 2021, quando o tribunal ordenou a reintegração dos canais, estabelecendo uma multa diária de 100 mil rublos (cerca de R$ 6 mil) em caso de descumprimento.
Um agravante da decisão foi que o valor da multa dobraria a cada semana em que não fosse paga. Como as contas das emissoras russas permanecem fora do ar até hoje, essa quantia aumentou significativamente ao longo do tempo. A situação se complicou ainda mais a partir de 2022, com o início da invasão russa à Ucrânia. Nesse período, o YouTube também bloqueou as contas de outros canais estatais, como Sputnik, NTV, Russia 24 e Russia Today.
Esses canais também buscaram amparo na Justiça e conseguiram êxito. Os tribunais russos determinaram o desbloqueio das contas e impuseram uma multa de 4 bilhões de rublos (R$ 237 milhões).
Uma quantia impagável
Em 2022, a divisão russa do Google solicitou falência, alegando que suas dívidas ultrapassavam 19 bilhões de rublos, enquanto seus ativos totalizavam apenas 3,5 bilhões. Isso significava que a empresa não tinha recursos suficientes para saldar suas obrigações financeiras.
Diante dessa situação, as empresas russas decidiram processar a gigante da tecnologia em outros países, apresentando ações judiciais na Espanha, Turquia, África do Sul e Hungria.
Em resposta, o Google acionou a Justiça nos Estados Unidos e no Reino Unido contra os proprietários dos canais Russia Today, Tsargrad e Spas, com o objetivo de bloquear o avanço dessas ações legais.
Em suma, essa questão evoluiu para um caso de Direito Internacional que ainda deve se arrastar por um bom tempo. O que se pode antecipar é que, caso perca, o Google não precisará pagar a exorbitante multa imposta pela Corte russa, pois não há dinheiro no mundo que se aproxime de US$ 2,5 decilhões.
Leandro Alvarenga, advogado e consultor de privacidade e segurança, corroborou essa avaliação em entrevista ao Olhar Digital, afirmando que é inviável que a big tech arque com essa quantia em favor da Rússia:
“O Google está praticamente sendo expulso do país. Primeiro, a empresa já entrou com um pedido de falência na Rússia, pois não consegue pagar essa multa. Essa é uma estratégia interessante, pois limita a execução da multa apenas aos bens que o Google possui na Rússia. O governo provavelmente tomará tudo o que puder dentro do seu território.”
Ele também destacou que o governo russo não costuma fazer acordos internacionais, especialmente com o Ocidente, onde o Google tem uma forte presença. Portanto, a cobrança dessa multa fora da Rússia será difícil, exceto em alguns países com os quais a Rússia tenha uma relação mais próxima, como a China e a Coreia do Norte, onde, possivelmente, o Google possua ativos ou operações.
“Acredito que o Google deve estar agindo conforme suas convicções, dizendo: ‘Se eu permitir que um país desrespeite meus regulamentos internos, não por causa de um ataque à democracia ou à pedofilia, mas por uma questão meramente política, vou abrir precedentes que poderão ser explorados globalmente’,” explica o especialista.
Ele ressalta que, por essa razão, a empresa tem adotado uma postura tão rigorosa. O Google deve ter calculado seus prejuízos e reconhecido que precisará praticamente encerrar suas operações na Rússia, pois essa conta é impagável. Acredito que, mesmo que vendesse todos os seus ativos globalmente, não conseguiria levantar esse montante. Portanto, é improvável que essa multa seja executável em qualquer país que realmente se considere democrático, ou que possua um sistema de justiça eficaz, uma vez que é completamente desproporcional.
Leandro Alvarenga, advogado e consultor de privacidade e segurança, em entrevista ao Olhar Digital.
Para você ter uma ideia, economistas estimam que o Produto Interno Bruto (PIB) global deste ano ficará em torno de US$ 110 trilhões (R$ 635 trilhões). Esse valor representa menos de 1% da multa imposta, na verdade, é bem inferior a isso.
Portanto, trata-se de uma quantia insustentável. Essa multa parece ter sido mais um espetáculo para o público russo do que uma verdadeira expectativa de pagamento no mundo real. Continuaremos acompanhando o desenrolar do caso – e espero nunca mais ter que lidar com tantos zeros na minha vida (a não ser que sejam na minha própria conta bancária…).
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