Temos conversado, neste espaço, sobre os paradigmas que regem nossas vidas, muitas vezes nos conduzindo por caminhos que conscientemente não desejaríamos seguir… Eles são constituídos pelos costumes que nos foram inculcados por nossa educação e experiências de vida, pelo modo de ser da sociedade na qual vivemos, e pelo próprio caminhar de nossa existência… Nenhum problema: é assim mesmo que “funcionamos”, até de modo harmônico, ao longo de nossa vida…
Inclusive, nos dois “Engenharia em Pauta” anteriores, conversamos sobre vários aspectos sobre os quais vale a pena refletir sobre esse assunto, pois os tempos estão mudando muito rapidamente, e novos paradigmas estão se apresentando. E, caso se pelo menos não procurarmos entendê-los, podemos ficar à margem dos comportamentos sociais e tecnológicos atuais e futuros, ou mesmo nos prejudicarmos na nossa vida social, familiar, comunitária, e nos demais aspectos da convivência humana…
Vou explicar, talvez abusando um pouco das ideias do filósofo francês La Boétie (Étienne de La Boétie,1530 – 1563), que na sua obra mais famosa, que é o Discurso da Servidão Voluntária, faz vários questionamentos sobre as causas da dominação de muitos por poucos, e das formas de como vencê-las. Que nome esquisito e paradoxal: “Servidão Voluntária”! Quem de nós deseja conscientemente ser servo, e modo voluntário, por desejo próprio? Mas acontece, e de modo muito comum…
Alguns exemplos: não existem pessoas que se tornam servos das redes sociais, não as abandonando senão para realizar o necessário para o dia a dia? Não existem pessoas que, mesmo detestando o trabalho que fazem, não permanecem nele com grande desgosto e mesmo intenso desgaste físico e mental? Não existem pessoas que seguem uma liderança de qualquer natureza, política, religiosa, de costumes duvidosos, de modo cego e imutável? E assim por diante…
Segundo La Boétie, uma das razões que faz o ser humano aceitar a “servidão” é ter nascido nela… O costume, com seu conjunto de paradigmas, é muito forte. De acordo com suas próprias palavras: “Assim é: os homens nascem sob o jugo, são criados na servidão, sem olharem para lá dela, limitam-se a viver como nasceram, nunca pensam ter outro direito nem outro bem senão o que encontraram ao nascer, aceitam como natural o estado que acharam à nascença”. Paradigmas, paradigmas… Dá para pensar, não é?
Outra razão que nos é dada por La Boétie e considerada por ele a mais importante, é a própria estrutura do poder no qual vivemos ou mesmo trabalhamos… E é verdade. Por exemplo: em uma instituição qualquer (no estilo “antigo”), é o chefe ou diretor que manda, e, por meio de supervisores, segundo La Boétie, “o tirano submete uns por intermédio dos outros” … E não acontece algo similar em nosso entorno?
O interessante é que La Boétie foi pioneiro no assunto, pois atualmente ele é tratado em Psicologia Social, no campo da Psicologia das Massas ou Multidões, considerando que esse nosso comportamento de servidão é irracional, sendo uma espécie de vício, como uma doença coletiva. Que coisa, não?
Mas o próprio La Boétie nos indica a saída desta servidão, de um modo simples, mas paradoxal: é só querermos e sairemos pela porta da frente, quebrando as amarras no momento em que quisermos… É só desejarmos e sairmos. Conforme palavras do próprio La Boétie, “não é necessário tirar-lhe nada (da servidão), basta que ninguém lhe dê coisa alguma” – ou seja, sair dela e modificar o estilo de vida… Meio complicado, não? Mas possível. E este será o assunto do próximo “Engenharia em Pauta” …
Até lá, então!
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