A Shell tem presença no Brasil há mais de um século e planeja que sua última extração de petróleo no mundo seja realizada no país, onde a empresa pretende continuar operando por muitos anos e completar sua transição para fontes renováveis de energia. Para alcançar esse objetivo, o presidente da Shell no Brasil, Cristiano Pinto da Costa, afirma que o país deve acelerar a concessão de licenças para investimentos em petróleo e gás, bem como agilizar a implementação do marco regulatório da energia eólica offshore (em alto-mar), caso contrário, o capital que poderia ser investido no Brasil poderia ser direcionado para outros países onde a empresa atua.
De acordo com Pinto da Costa, o Brasil é um país prioritário para a Shell, e a empresa continua a investir nos campos onde já atua, além de desenvolver novas unidades de produção. Embora a exploração e produção de petróleo ainda sejam e continuem sendo a principal área de negócios da empresa no Brasil, a Shell está dando passos concretos para abrir novas frentes de negócios em linha com a estratégia do grupo de se preparar para a transição energética.
Com uma formação em engenharia química e 18 anos de experiência na Shell, o executivo atuou em diversas praças internacionais, como Londres, Haia e Houston, antes de assumir a direção da empresa no Brasil em agosto de 2022. Em entrevista exclusiva ao Estadão, ele destaca que a Shell continua a investir no país e que sua estratégia está em linha com a transição energética global em direção a fontes renováveis de energia.
Atualmente, a Shell opera 14 navios-plataforma no Brasil, com outros três já contratados e mais três planejados para serem incorporados no futuro. O presidente da empresa no país, Cristiano Pinto da Costa, afirma que a meta é atingir 20 unidades de produção até o final da década.
Desde o início das licitações para exploração de petróleo e gás no setor em 1999, a Shell nunca faltou a nenhum leilão no Brasil, quebrando o monopólio de décadas da Petrobras. Como resultado, a Shell é atualmente a maior produtora de petróleo privada no país, com uma média de 400 mil barris diários. Em outubro de 2022, a empresa estabeleceu um recorde de extração diária de 448 mil barris.
A Shell planeja reduzir sua lista de 32 países onde atualmente produz petróleo para nove, incluindo o Brasil, Brunei, Estados Unidos, México, Reino Unido, Nigéria, Cazaquistão, Omã e Malásia. Segundo Costa, essa concentração de investimentos aumentará a importância do Brasil para a empresa e a tendência é de aumento de investimentos locais.
O pré-sal é responsável por uma grande produtividade e os campos em parceria com a Petrobras apresentam grande destaque, como é o caso da plataforma Mero 1, na Bacia de Santos, que atingiu o platô em pouco mais de oito meses de produção com apenas quatro poços, o que é considerado raro no mundo. Costa ressalta que a produtividade do pré-sal resulta em uma intensidade de carbono gerado por barril comparativamente mais baixa, o que ajuda a prolongar a vida da produção no Brasil.
O presidente da Shell no Brasil, Pinto da Costa, afirma que a empresa mantém o foco na exploração das bacias de Campos e Santos, onde já possui perfurações agendadas. No entanto, ele não descarta a possibilidade de explorar uma região que ainda não foi explorada devido a questões ambientais: a Margem Equatorial. Segundo Costa, é importante investigar se há potencial para exploração na área, especialmente após grandes descobertas em países vizinhos, como Guiana e Suriname. Ele destaca que a questão será um dos principais temas a serem discutidos pelo governo Lula, por ser estratégica e atrair investimentos, empregos e impostos.
Segundo Pinto da Costa, ainda há potencial para exploração nas bacias de Campos e Santos, embora o Brasil precise começar a procurar em outras bacias, já que o potencial das duas primeiras está chegando ao limite. Nos últimos cinco anos, a Shell Brasil investiu R$ 36 bilhões no Brasil, com uma média anual de US$ 1 bilhão a US$ 2 bilhões. A produção brasileira representa algo entre 10% e 12% da produção global da petroleira. A empresa investe anualmente entre US$ 7 bilhões e US$ 8 bilhões no negócio de upstream (exploração e produção) e de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões em energia renovável, além de US$ 5 bilhões a US$ 6 bilhões no braço de gás e petroquímica.
Pinto da Costa também comenta que a Shell está aberta a parcerias para dividir riscos, como aconteceu com a Eletrobras para avaliar oportunidades em energia eólica offshore. Embora a previsão seja de que os projetos só saiam do papel no fim desta década, a Shell já protocolou no Ibama projetos de eólica offshore para as costas de seis estados brasileiros, com capacidade instalada prevista de 17 gigawatts (GW).
No entanto, o executivo alerta que o Brasil precisa validar o marco regulatório de energia eólica offshore nos próximos 12 a 18 meses e publicar o primeiro leilão de áreas para a exploração para se manter competitivo em relação ao resto do mundo. Se o país demorar a avançar com o marco regulatório, ou se ele não for competitivo, a Shell pode acabar investindo em outros lugares.
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