O progresso científico e tecnológico tem sido constante ao longo dos anos, mas alguns estudiosos argumentam que a taxa de avanço pode estar diminuindo. Algumas teorias apontam para limitações no crescimento do conhecimento humano, enquanto outros sugerem que questões financeiras e políticas estão impedindo o avanço. Ainda não há consenso sobre a causa da eventual desaceleração no progresso científico e tecnológico, e é uma questão ainda em debate na comunidade acadêmica.
Uma análise publicada pela revista Nature concluiu que os avanços científicos disruptivos, aqueles que rompem com o paradigma anterior, estão diminuindo com o tempo.
A análise baseou-se em 25 milhões de artigos científicos e 3,9 milhões de patentes publicadas entre 1945 e 2010 e mostrou que enquanto o número de artigos científicos publicados aumentou significativamente, o potencial para causar uma revolução no conhecimento diminuiu.
A equipe sugere que isso pode ser atribuído a uma espécie de “bloqueio da criatividade” criado pela cultura do “publicar ou perecer” no meio científico, onde os pesquisadores são avaliados pela quantidade de artigos que publicam e também a quantidade enorme de trabalho necessário para alcançar a fronteira do conhecimento.
A equipe de pesquisadores usou uma métrica chamada “índice CD”, que usa citações de um artigo científico por outros artigos como um indicador da importância daquele primeiro artigo para a área de conhecimento. A ideia é que um estudo disruptivo torne obsoleta grande parte da pesquisa anterior, de modo que os artigos subsequentes terão menos probabilidade de citar a pesquisa anterior a esse artigo disruptivo. Pelo contrário, se o progresso representado por aquele artigo é apenas incremental, é mais provável que os artigos posteriores o citem, juntamente com as fontes que o próprio trabalho cita.
Os resultados da análise mostraram que o índice CD médio diminuiu mais de 90% entre 1945 e 2010 para os artigos científicos e mais de 78% de 1980 a 2010 para as patentes. O potencial revolucionário dos artigos diminuiu em todos os campos de pesquisa e em todos os tipos de patentes analisadas, com as ciências físicas tendo o maior declínio percentual, com a pontuação média caindo de 0,36 em 1945 para 0 hoje.
Os pesquisadores também fizeram uma análise semântica dos artigos e descobriram que, enquanto os artigos publicados na década de 1950 eram mais propensos a usar palavras relacionadas a criação ou descoberta, os artigos publicados na primeira década deste século são mais propensos a se referir a um progresso incremental, usando termos como “aprimorar” ou “melhorar”. Este resultado está de acordo com outra pesquisa, publicada em 2019, que mostrou que grandes equipes de cientistas fazem pequenos progressos científicos enquanto as descobertas realmente disruptivas são feitas por pequenas equipes, e é importante notar que hoje o empreendimento científico é largamente dominado por grandes equipes.
Existem várias histórias e lendas sobre como o homem encara seu nível de conhecimento, e em alguns casos, esse nível foi subestimado. Por exemplo, em 1889 o chefe do escritório de patentes dos EUA, Charles H. Duell, disse que acreditava que seu escritório poderia ser fechado, pois “tudo o que podia ser inventado, já foi inventado”. O famoso físico Lorde Kelvin também cometeu esse erro, afirmando, em 1900, que “não há mais nada novo para ser descoberto pela Física. Tudo o que nos resta são medições cada vez mais precisas”. Isso foi antes da relatividade e da mecânica quântica.
A nova análise dos cientistas sugere que a queda no potencial revolucionário das pesquisas pode ser explicada porque as “frutas mais baixas” no pomar já foram colhidas, e que agora só nos restaria aprimorar as teorias científicas. Porém, o líder desta análise, o professor Russell Funk, discorda disso, e argumenta que há muitos fenômenos com os quais a ciência ainda não se deparou, e que o conhecimento acumulado hoje é tão grande que os cientistas passam tempo demais adquirindo conhecimento para chegarem à fronteira, onde um novo conhecimento revolucionário poderia ser produzido.
Existem várias opiniões diferentes sobre o que pode ser feito para aumentar o potencial de avanços revolucionários na ciência, incluindo uma revolução científica por meio da convergência, que envolve a fusão das grandes áreas da ciência, ou até mesmo a sugestão de que a ciência será feita por equipes ciborgues. O certo é que não se pode subestimar o potencial de avanços significativos na ciência.
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