Houve um tempo em que a chuva ácida era o pesadelo ambiental do planeta. Na década de 1970, ela descia dos céus como uma vilã silenciosa, corroendo estátuas centenárias, devastando florestas e dizimando peixes em rios e lagos. A culpa? Poluentes lançados no ar por indústrias que, ao se misturarem com o vapor d’água, transformavam a chuva em uma arma química. Felizmente, leis mais rígidas conseguiram domar esse monstro ao longo dos anos. Mas, enquanto comemorávamos essa vitória, um novo inimigo surgiu: a chuva agora carrega microplásticos.
Sim, aqueles pedacinhos minúsculos de plástico, quase invisíveis, estão caindo do céu. E o pior: eles não vão embora tão cedo. Diferente da chuva ácida, que foi controlada com regras e tecnologia, os microplásticos são teimosos – levam milênios para se desfazer. Pior ainda, ninguém sabe ao certo o que eles podem fazer com a nossa saúde a longo prazo.
De onde vem essa praga? Estudos recentes, como um publicado na revista Science em 2020, mostram que os microplásticos estão viajando pelo ar. Nos Estados Unidos, mais de mil toneladas métricas caem anualmente em parques nacionais e áreas selvagens do oeste, carregados por ventos que levantam partículas de rodovias movimentadas. Os oceanos também entram na dança: quando as ondas quebram ou bolhas estouram, pedaços microscópicos de plástico voam para as nuvens e voltam como chuva.
E não é só lá fora. Um trabalho de 2024 achou mais de 20 tipos de PFAS – substâncias químicas que incluem microplásticos – pingando do céu em Miami. Outro estudo, de 2022, mediu níveis tão altos dessas partículas na chuva que superaram os limites de segurança para água potável nos EUA e na Dinamarca. Traduzindo: água da chuva sem tratamento? Nem pensar.
Um vilão onipresente
Os microplásticos não se contentam em apenas cair do céu. Eles estão nos mares, nos rios, nas águas subterrâneas e até nos reservatórios que abastecem nossas casas. Já foram encontrados em peixes que vão parar no nosso prato e, pasme, dentro do nosso corpo. Janice Brahney, biogeoquímica da Universidade de Utah, não mede palavras: “É muito pior que a chuva ácida. O microplástico está em todo lugar e não tem volta.”
Esses intrusos vêm, em parte, de produtos que usamos no dia a dia. PFAS, usados em panelas antiaderentes e roupas à prova de manchas, escaparam para o meio ambiente ao longo das décadas. Carros, com seus pneus desgastados, e o descarte irresponsável de plásticos só aumentam o problema.
E a solução?
As estações de tratamento de água até tentam ajudar, filtrando mais de 70% desses poluentes. Mas não são infalíveis – um estudo deste ano flagrou microplásticos em garrafas d’água e até na torneira na França. Nem a água tratada está a salvo. E o que isso significa para nós? Cientistas correm contra o tempo para entender. Já há pistas de que essas partículas podem estar ligadas a doenças graves como câncer, problemas cardíacos e até Alzheimer, mas o quadro completo ainda é um mistério.
Reverter esse cenário? Para Brahney, seria preciso uma máquina do tempo. “Criamos um ciclo que não podemos quebrar”, alerta ela. Enquanto a chuva ácida foi um capítulo que conseguimos virar, os microplásticos são uma história sem fim à vista – e estamos todos no meio dela.
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