Continuando a “navegar” neste tema, tão polêmico quanto importante, é bom recordar dois pontos que já foram citados na primeira parte (no “Engenharia em Pauta” anterior), que foi uma espécie de “bate papo” geral. Nesta parte, refletimos que as crianças aprendem coisas complexas de modo natural, de forma lúdica, e por tentativas e erros – lembra-se, por exemplo, de como você aprendeu a andar de bicicleta? Refletimos também que o processo utilizado pelos engenheiros, em seu trabalho, passa por fases típicas, depois que os problemas a resolver lhes são apresentados. E, resumidamente, este é o processo: ter ideias, projetar soluções, implementá-las, testá-las e mensurar seus efeitos e resultados, melhorar a solução, se for o caso, e aprender com os erros e acertos.
No “ter ideias”, começam os problemas, advindos da massificação das etapas anteriores de ensino – uma enorme dificuldade em ter ideias próprias, e pior ainda, criativas… Mas como começar bem, então, todo o ciclo? Examinando um pouco o problema, vemos que a escolaridade anterior, com raras exceções, primou por muito conteúdo, de muitas áreas independentes, ao mesmo tempo (o período de aulas), com aprendizagem convencional (o professor “ensina”, o aluno “aprende”), e nada de criatividade é exigido… E nem sequer é divertido, ou é citado para que o conhecimento “transmitido” serve… Chato, não? Multidisciplinaridade, nem pensar…
Podemos reverter esta situação, por exemplo, iniciando um novo conhecimento a adquirir propondo um caso real a resolver, de modo que a solução envolva outras áreas de conhecimento que interessem. E, se possível, utilizando algum problema ou situação que esteja sendo tratado na mídia, de modo mais marcante. Por exemplo, em um jogo de futebol que interessava a todos e que estava sendo transmitido por satélite (desculpem-me: é a minha área de atuação, engenharia de telecomunicações…). De repente, o sinal da TV foi totalmente bloqueado por uma grande nuvem de tempestade, justamente na hora da disputa final de pênaltis – muito chato, não? Aí poderíamos colocar os alunos a descobrir porque ocorreu este “apagão”, e então abrir espaço para calcular como modificar a antena para que isto não ocorra mais… Dica: os sinais de alta frequência emitidos pela maioria dos modernos satélites sofrem grande “enfraquecimento”, ou atenuação, ao trafegarem por nuvens densas (fenômeno denominado “atenuação”), mas que pode ter seu efeito minimizado por antenas um pouco maiores… Eles poderiam pesquisar na Internet (o que para eles é prazeroso…), discutir com os colegas (também é bom…), apresentar soluções e propostas, e, finalmente, o professor poderia elaborar o modelamento matemático necessário ao cálculo das antenas e, portanto, chegar à solução do problema. E aí, entraria uma “aula expositiva”, apenas esclarecendo tudo – ela também tem seu lugar, se colocada na hora certa! Quanto conhecimento, em varias áreas, viria deste processo!
Quanto às disciplinas das áreas “humanas”, muito importantes, também podem ser trabalhadas de modo mais efetivo, mesmo porque em cursos de engenharia elas são naturalmente desprestigiadas pelos alunos. Uma boa metodologia seria dividir os principais conteúdos teóricos da disciplina por grupos de alunos, orientá-los e municiá-los de material suficiente para o entendimento do conteúdo de interesse, e então fazê-los ministrar este conteúdo, em data marcada previamente, e de modo o mais criativo possível (cartazes, apresentações “power point”, teatro, etc.). Depois da apresentação, pode ser provocado algum tipo de debate, e acréscimos do professor, se for o caso. Já utilizei este método, com ótimos resultados!
Praticando estas metodologias, ou similares, criadas pelo professor interessado e criativo, estaremos colocando os alunos a pensar menos linearmente e de modo autônomo, fazendo com que eles se apossem do conhecimento de modo natural. Mas existem algumas ferramentas que podem ajudar neste trabalho… Vamos conversar sobre elas no próximo ”Engenharia em Pauta”? Até lá, então…
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