No “Engenharia em Pauta” anterior sugeri alguns métodos de ensino que me parecem bem adequados ao desenvolvimento e aprendizagem de alunos de engenharia e mesmo, ouso afirmar, em outras áreas de conhecimento… Foi tranquilo para mim, pois, como docente em várias disciplinas, experimentei e utilizei todos, com bom resultado.
Agora, gostaria de aprofundar mais este tema, mesmo porque nestes novos tempos em que vivemos, de tecnologias exponenciais, e de necessidade de soluções para problemas novos e muitas vezes inéditos, há necessidade de desenvolver nos alunos uma capacidade de pensar também nova, e que os leve a pensar ainda mais longe… Na realidade, no passado nem tão distante, não adiantava muito ter ideias diferentes e inovadoras, pois não havia tecnologia disponível para implementá-las; atualmente, a carência é de ideias, já que ampla tecnologia, em hardware e software, está disponível para realizar praticamente tudo o que quisermos… É uma mudança e tanto!
Nesta caminhada, uma primeira proposta seria utilizar “Design Thinking”, que nos aproxima, como engenheiros, do modo criativo de pensar dos designers. Mas como fazer isto, de modo bem resumido? Vamos lá: após ter sido proposto um problema de engenharia, se possível bem real e desafiante, deve-se montar grupos, se possível multidisciplinares, cuja primeira missão é observar, “in loco”, as situações nas quais o problema se manifesta, e então anotar tudo o que for possível a respeito. Depois, em reuniões bem coordenadas e livres, discutir sobre quais seriam os “problemas de fundo”, periféricos, mas fundamentais, que impactam o problema proposto. Da discussão livre e criativa, e dos “insights” que os membros do grupo seguramente terão, há grande probabilidade de chegar-se a boas e inovadoras soluções, oriundas da criatividade de todo o grupo. Desta forma, afastamo-nos das soluções corriqueiras e usuais.
Uma segunda proposta seria utilizar, se for o caso, o “Design Biomimético”, método que busca soluções baseadas ou “copiadas” da natureza. Esta, conforme sabemos, é extremamente caótica (portanto também extremamente criativa…), e totalmente dirigida a encontrar boas soluções para seus problemas e também para aperfeiçoá-las com o tempo… Por exemplo, ao verificar como funciona a parte mecânica do sistema de alimentação extracorpórea utilizado em ambientes hospitalares, principalmente em UTI’s, verificamos que ele baseia-se nos movimentos peristálticos que nosso esôfago faz para conduzir o alimento ao estômago… Aliás, o intestino também funciona dentro deste princípio – afinal, trata-se de conduzir fluidos de modo delicado e sem interferir com os mesmos.
E por falar em “copiar”, uma interessante proposta foi feita por David K. Murray, em seu excelente livro “A arte de imitar” (1). Nesta importante obra sobre como inovar, ele sugere que também “copiemos” soluções de “domínios semelhantes”, ou seja, de outros campos diferentes do nosso, mas que apresentem soluções muito boas para lograr o que desejamos. Por exemplo, conforme o autor da referida obra, por que não utilizar técnicas de atração de espectadores de cinema para conseguirmos construir um software, ou um aplicativo que tem que ser muito chamativo e agradável? Domínios semelhantes, soluções semelhantes, efeitos iguais!
Vamos continuar esta conversa no próximo “Engenharia em Pauta”? Ainda temos técnicas muito boas para mostrar aos nossos alunos como “sair da caixa” em nossas ideias criativas… Até lá!
Referência:
- MURRAY, D. K. A arte de imitar: seis passos para inovar em seus negócios copiando as ideias dos outros. São Paulo. Elsevier, 2011. 238 p.
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