No “Engenharia em Pauta” da semana passada, andamos conversando sobre o “Método TRIZ”, desenvolvido pelo cientista russo G. S. Altshuller (1926 – 1998) e seus colaboradores, e que significa Teoria da Resolução de Problemas Inventivos. A proposta deste método seria “tornar a criatividade uma ciência exata”, pois utilizaria, dentro de quarenta parâmetros de engenharia, as ideias que grandes inovadores utilizaram em suas descobertas e desenvolvimentos, assumindo que ao melhorar algo para que se chegue perto do funcionamento ideal do projeto, algo sairia prejudicado… São as “contradições” apresentadas no método, para o qual o TRIZ propõe soluções, mas apenas com ideias genéricas. Aí você tem que, saindo de uma ideia genérica dessas, achar a sua própria solução…
No ensino de engenharia, sempre procurei oferecer aos meus alunos “realidades de engenharia”, com problemas que os motivassem a “usar a cabeça” para “engenheirar” soluções, e o TRIZ foi um grande auxiliar… Vamos a um exemplo, bem marcante…
Uma vez, dentro de uma Atividade Curricular Complementar que eu gerenciava, propus aos alunos, divididos em grupos, que desenvolvessem veículos motivos a água, que deveriam percorrer certa distância, fixada em edital, e com velocidade que seria medida e avaliada. Detalhe: o veículo não deveria soltar a água pelo percurso…
Muitas soluções interessantes foram propostas, depois de uma boa “quebração de cabeças”, e na apresentação final todas funcionaram… Quase todas se basearam em bexigas de festa cheias de água, suspensas a certa altura no veículo; tais bexigas, ao longo do percurso, desciam, e, por ação de um sistema de roldanas, acionavam mecanicamente um sistema de tração que movia o veículo. Tudo bem! A velocidade ficava por conta do atrito das rodas nos eixos e do peso do veículo, que tinha que percorrer a distância fixada.
No entanto, a solução mais eficiente e criativa foi de um grupo que, utilizando o TRIZ, desenvolveu um veículo com uma espécie de “propulsão a jato”… Esse efeito era causado pela reação da água com uma mistura de cal virgem em um recipiente tampado, e que era destampado no início da apresentação, permitindo o escape do gás, naturalmente sob pressão, e dos resíduos da reação. Como fizeram? Entrando em “www.triz 40.com” considerando como ”feature to improve” (característica a melhorar) com “speed” (velocidade), e como “feature to preserve” (característica a preservar) com “shape” (formato) do veículo, obtiveram a sugestão de, em tradução livre, “alterar o estado físico de um objeto (por exemplo, para um gás, líquido ou sólido)” – primeira sugestão para resolver a contradição… Depois entraram outra vez com “feature to improve” com speed, e como “feature to preserve stress or presure” (preservar o estresse ou pressão), talvez para ter alguma ideia sobre a segurança do veiculo… Aí acharam “fazer com que uma peça execute várias funções; eliminar a necessidade de outras peças”. Meditando sobre esta proposta, usaram a água para que, em reação química, gerasse gás propelente… E baseados na segunda proposta, eliminaram todo o complexo mecânico de propulsão por energia gravitacional… Legal, não?
Fatos curiosos: na primeira demonstração, o veículo explodiu: coisas de protótipo… Mas eu tinha solicitado a eles que o blindassem, então apenas o que aconteceu foi uma grande risada da turma, extremamente curiosa a respeito da ideia inovadora. O segundo fato foi que o veículo, reconstruído, não só foi o mais veloz, como acabou parando em um canteiro distante do campus… O terceiro fato foi que quando questionei o rastro de pó que o veículo deixou em seu percurso, eles retrucaram, com razão: “pois é, mas no edital o senhor citou que não poderia deixar água – e nós só deixamos pó…”. E aí deu para comentar este assunto e parabenizá-los pelo reconhecimento do “escape” que, inadvertidamente, deixei no edital. E que eles iriam se defrontar muito com isto em suas carreiras profissionais…
Boa lição de engenharia, não?
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